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Capitulo 1

A consciência da liberdade
   Sartre chama a consciência de Para-si, [1]expressão que define a consciência como distância ao Ser, pois é uma relação do Em-si-Para si[2]. O surgimento do Para-si, faz com que o Em-si [3]venha ao mundo, de modo mais genérico, o Para-si é o nada pela qual "ha" Em-si. A realidade do Em-si está ai, com suas qualidades, sem qualquer deformação. Pois o Em-si só revela, quando o Para-si o modifica, surgindo no mundo, em potencial, estando abandonado ai no meio à indiferença. Por esta razão, o Para-si nada traz de novo, salvo uma significação; descoberta como situação e toda situação é concreta, cada escolha é uma escolha de mudança concreta a ser provocada em um dado concreto. Pois "Quando o Em-si se rompe para converte-se em Para-si, ocorre não a destruição, mas a "aparição" mesmo do mundo: a consciência faz com que o mundo: a diante dela como existente." (Perdigão, Paulo; Existência e Liberdade, pg. 39).
     É a partir da consciência que o homem conduz a sua existência. A consciência nada tem de substancial ela só existe na medida em que se aparece. Ela aparece no momento em que o Ser tem uma ação e não apenas a intenção. Porque toda consciência é consciência de alguma coisa; ela é um ser para o qual, em seu próprio ser, ergue-se a questão de seu ser enquanto este ser implica um ser outro que não ele mesmo, ela em sua natureza mais profunda é relação a um ser transcendente. Ter consciência de alguma coisa é estar diante de uma presença concreta e plena que não é consciência.
"..., ser consciência é presença a si. Aqui se verifica porém um diante de si que representa separação e portanto um certo grau de negatividade. Mas o que é que separa o sujeito de si mesmo? resposta: nada. Nada é a "distância nula que o ser carrega em seu ser" (L' Être et le Nént, p.20) Mas essa distância nula que o ser carrega em ser " Para-si é consciente de sua facticidade, ou seja, "ele tem o sentimento de sua inteira gratuidade, ele se apreende como estando aí para nada, como sendo excessivo (comme é tant de trop). Em consequência, o Para-si é ontologicamente deficitário, pois falta-lhe ser e por isso mesmo gravita em torno dos valores para os quais tende mediante o desejo e que constituem os possíveis de sua ação. " A falta do Para-si é uma falta que ele é (L' Être et le Néant, p.145). Falta, falha, deficiência. "(Ensaios Filosóficos, Nunes Benedito; organização e apresentação Vitor Sales Pinheiros. São Paulo: editora WMF Martins Fontes, 2010. Pg. 249. ).

     Sendo uma filosofia da consciência, a subjetividade do indivíduo é o ponto inicial para o existencialismo. Bornheim aponta em seu livro "Sartre" que a frase celebre de Descarte "eu penso logo eu sou" inspirou Sartre como ponto de partida para validar a metafísica na sua filosofia que se estabeleceu como verdade absoluta na consciência ao atingir a si própria; ao passo que para encontra essa verdade na subjetividade do Ser. Sartre ao afirmar a subjetividade, instaura dois problemas de duas origens distintas: o Homem e a Matéria. A dicotomia sujeito-objeto é a pretensão do filosofo adentrar na metafísica moderna. Fazendo uma filosofia existencialista baseada na liberdade que nasce na consciência do ser humano. Onde Homem contracena como protagonista num teatro da qual o público é plateia e personagem ao mesmo tempo ela não só assistiu mas participa da peça. Que tem como cenário o mundo e como plano de fundo a consciência, da qual o ator protagonista é o próprio homem que se faz herói, bandido e o seu próprio deus, libertador de sua liberdade.
     A consciência é a morada transcendente do ser da liberdade existencialista de Sartre. Nasce na consciência, e transcende do Em-si-para-si a liberdade existencialista do ser, que projeta, se libertar do passado tornando-o um nada para com isso negar o que tinha antes e fazer do agora um novo presente para o futuro.   
     No momento em que o Ser tem consciência da sua liberdade de pensar e agir, ele tem a responsabilidade de conduzir sua vida da forma que projetares ele decide sair da comunidade em que vive desde nasceu e escolhe mudar de cidade. Ele faz dessa escolha seu projeto individual ele não é mais conduzido ele conduz e planeja qual projeto que realizar desde que tomou consciência de sua liberdade, nadificando o Em-si e dando passagem ao Para-si conseguindo assim sua carta de alforria, já não é mais escravo e sim livre para existir no mundo, como condenado a sua liberdade de ser no mundo um sujeito com uma consciência de agir. "... a consciência existe diante do mundo, é preciso que ele apareça a mim como fenômeno psíquico real. Não basta aqui haver "virtualidade", nem "possibilidade": a consciência é ato, e tudo o que existe na consciência existe em ato." (A imaginação, Sartre, Jean-Paul; tradução Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L & PM, 2012. Pg. 35).
    A consciência tem como ponto de vista a intencionalidade: “Com efeito, a consciência define-se pela intencionalidade. Pela intencionalidade, ela transcende-se a si mesma, ela unifica-se escapando-se” (Sartre, 1994, p. 47). Para Sartre a consciência é mais do que intenção e se colocar em ação. Independente da questão da finalidade de ganhar ou perde ele o escolhe por livre espontânea vontade de realizar, com uma postura madura de liberdade autêntica e verdadeira no mundo o Em-si-Para-si, como ser-no-mundo, nascido do Ser-em-si dos fenômenos; com uma carência ontológica sem uma identidade que possa se afirmar consigo mesmo.
     Dessa forma, não há, na leitura ontológica da realidade humana, nenhum ser que seu ser é nada, a consciência é. Não é possível definir seu ser, composto que seu ser é nada. Todavia uma negatividade; o homem sendo o ser pelo qual o nada vem ao mundo. "Sartre admite, entretanto, que não é a negação que produz o Nada. Muito pelo contrário é o Nada que é a origem da negação [...] De qualquer maneira o Nada impregna a consciência e chega ao mundo por intermédio dela." (Ensaios filosóficos; Nunes, Benedito; organizações e apresentação Victor Sales Pinheiros. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. p. 249).
    O nada é um mero conceito vazio, desprovido de sentido: "O nada é a possibilidade própria do ser e a sua única possibilidade [..] realidade humana é o ser, no seu ser e por seu ser, enquanto fundamento único do nada no coração do ser" (Sartre, 1997, p. 128). Dessa forma o Ser-para-si emerge na consciência, sendo apto para um projeto individual de se projetar no mundo fazendo seu próprio destino onde os valores e moral é escrito pelo próprio homem. Mas isso tudo passa pela consciência responsável de negar a si mesma, para construir um para-si que lhe ajudar a vencer o nada, que lhe impediu de transcender no mundo como sujeito livre. Ele não usa mais de má-fé se mascarando de um personagem de quem ele não era, mentindo a si mesmo. Ele usa de coragem para transcender do nada e torna a consciência concreta e real no mundo, tirando todas as máscaras que lhe impedia de escolher por si mesmo livre, com uma consciência sem amarras.
     O Ser é opaco a si mesmo exatamente porque está pleno de si. Sendo assim consciência é um vazio e por ser consciência de alguma coisa ela nunca será o que busca ser. Pelo fato do ser-Em-si ser um vazio no tempo e no espaço. O Em-si é, para se perder em Para-si.
     O Para-si se complementa no Em-si, Sartre, contudo nos relata que o uso do ser-Para-si é com o intuito de gerar ação própria na consciência, para ser-no-mundo. Se o ser-Em-si não pode ser seu próprio fundamento nem o dos outros seres, o fundamento em geral vem ao mundo pelo Para-si.
     A consciência não se apresenta por ela mesma sem ser sequestrado pelo para-si para revelar-se no mundo. O para-si é o ser que se determina a existir na medida em que não pode coincidir consigo mesmo. Porque sem o ser-Em-si não teria o para-si no mundo, contudo não poderia haver a consciência no mundo é pelo qual a consciência se transparece, ela é cheia de intencionalidades, mas só com ela mesma não teria ação no ser-Em-si.
    O Ser precisará da consciência para que suja a intencionalidade, assim sendo o Para-si teria pressupostos para agir no mundo. Os dois seres tanto o Em-si e o Para-si são dois elos inseparáveis depois de revelado um para outro na liberdade concreta no mundo.
        "Partindo da análise dos fenômenos. Sartre conclui, [...] que o Ser comporta duas regiões ontológicas distintas; de um lado, o Ser-em-si ... dos fenômenos; de outro, o Ser-para-si da consciência [...] dos fenômenos; de outra, o Ser-para-si da consciência [...]
         O primeiro é implicado pelo segundo, pois que, de acordo com o princípio da intencionalidade, reformulado por Brentano, e que serviu de base à filosofia fenomenológica de Husserl, a consciência é sempre consciência de algo. A consciência, portanto, revela um outro ser para o qual está permanente voltada e na direção do qual se transcende. "É o ser desta mesa, deste maço de cigarros, da lâmpada e, de um modo geral, o ser do mundo que é implicado pela consciência.” (Sartre, L'Etre et le Néant.14º ed. Paris: Gallimard, p.29.)". " (Ensaios Filosóficos, Nunes Benedito; organização e apresentação Vitor Sales Pinheiros. São Paulo: editora WMF Martins Fontes, 2010. Pg. 204. ).
        Sartre trata da consciência com mais realidade e concretude do que Husserl. Ele sai do âmbito abstrato da consciência e a coloca em ação no mundo, por isso que é na consciência que Sartre defende sua liberdade. O fenômeno do ser se revela imediatamente à consciência. O Ser da consciência partiu da revelação-revelado de outro tipo de ser, o Para-si, que se opõe ao Ser Em-si do fenômeno. O sentido do Ser Em-si, a ser tentada, só pode ser provisória. Portanto usa do Para-si para Ser-no-mundo.
     A fenomenologia concedeu a Sartre uma possibilidade de estudar o fenômeno do Ser como mais profundidade e assim compreender melhor o homem. O papel da Ontologia fenomenológica foi muito importante para Sartre é investigar o Ser que o fenômeno revela, pois não é possível para Sartre saber nada sobre o Ser, sem consultar o fenômeno de ser, já que é o próprio fenômeno de Ser que solicita ao ser do fenômeno sua aparição. Logo, é o fenômeno de Ser, que conhecemos na visão sartriana, a transfenomenalidade do Ser ou sua aparição, que, revela no mesmo ato sua aparência e essência como indicativo de si mesmo ou do seu próprio Ser. Em seus resumos ele chega a dizer que o Ser é em si; contudo chega ao fenômeno ser-Em-si. O Ser-Em-si se defini como sendo o que não é e não sendo o que é. Com isso no Ser-em-si não pode achar o possível e nem necessário ele é sempre contingência. No entanto, o possível só é cabível na estrutura do Para-si, ou seja, pertence a outra região do Ser. Todos os seus possíveis que fazem parte de sua possibilidade de Ser ainda não lhe pertencem. Seus possíveis se refletem sobre sua consciência, determinando aquilo que pode Ser. Como exemplo de possibilidade de Ser, podemos citar a escolha profissional. Sartre nessa etapa de seus estudos estabelece conhecer mais sobre os dois seres: o Em-si e o Para-si do qual ele exemplifica com mais profundidade em sua obra O Ser e o Nada - Ensaios de ontologia fenomenológica.
        O Sartre denominou o Ser como contingência e não definição. Com isso o Ser é situado e mesmo em situação o Ser não seria um isso ou um aquilo, nu círculo fechado, ele é o que é querendo escolher Ser. De outra forma o Ser estaria comentando um ato de má-fé.
       A consciência ou o Para-si, consiste em ser si mesmo sob a forma na presença de si. Desse modo, o Para-si deve Ser seu próprio nada, para Ser no mundo uma presença que não é outra coisa que ele mesmo. E perguntamos: "Por que ele é assim, e não de outro modo?" O Ser é na medida em que existe como presença no mundo.
"Logo, o ser da consciência, na medida em que este ser é Em-si para se nidificar em Para-si, permanece contingente; ou seja, não pertence à consciência o direito de conferir o ser a si mesmo, nem o de recebê-lo de outros. Com efeito, além do fato de que a prova ontológica, com a prova cosmológica, fracassa na intenção de constituir um ser necessário, a explicação e o fundamento de meu ser, na medida em que sou tal ser, não poderiam ser encontrados no ser necessário. A premissa "tudo que é contingente deve achar fundamento em ser necessário, e eu sou contingente" assinala um desejo de fundamentar e não a vinculação explicativa a um fundamento real. De modo algum daria conta, na verdade, desta a contingência, mas apenas da ideia abstrata de contingência em geral. "(O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Jean-Paul Sartre; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 131).
     O Ser-Em-si é contingente, parti do momento que ele apela-se em Para-si, se tornando e revelando em ato nadificador, esse fundamento de si como consciência vem em forma de sacrifício que o nadifica; o Para-si é o Em-si que desaparece como Em-si para se afirmar como consciência. Com tudo isso a consciência consegue de si própria seu Ser consciente e só pode se relacionar consigo mesma, na medida em que é a sua própria nidificação. Para com isso se transforma em Para-si com todo o fundamento geral no mundo. Para consciência existir no mundo:
"... existir e ter consciência de existir é a mesma coisa. Ou seja, a grande lei ontológica da consciência é a seguinte: a única maneira de existir para uma consciência é ter consciência de que há somente dois tipos de existência: a existência como coisa do mundo e a existência como consciência." (A imaginação, Sartre, Jean-Paul; tradução Paulo Neves. Porto Alegre, RS: L & PM, 2012. Pg. 108).
        O Para-si é um ser que habita o seu próprio nada; é o Ser que cria os valores e com eles se angustia. A consciência transcende, quando indica sua intencionalidade, realizando o movimento de sair para fora de si; diante do nada do seu Ser o para-si, exerce sua liberdade e ao ser lançado no mundo.
       O nada na consciência nos revelou, também que o homem para fugir do vazio de seu Ser. Ele precisará tomar uma atitude, frente a essa situação. Ausência de fundamento perante os seus projetos injustificáveis recorre a enganar essa facticidade construindo mascaras na fuga da angustia; com essa tentativa estaria enterrando no seio de um ser opaco, com isso o ser que não é translucidez e é transcende na imanência, a liberdade torna uma de suas prioridades.
         A consciência na visão sartriana é plenamente consciente de si, não havendo inconsciente ou não-consciência que possa justificar as ações humanas.  No ser para-si, a liberdade fundamenta a possibilidade do homem escolher e de negar seu próprio Ser. O homem com sua consciência, transpassa toda e tudo o que podem o definir. Ele é portando uma cera virgem que se pode modelar da forma que projetar para o possível para transcorrer em sua trajetória, como possibilidade permanente de um eterno Vir-a-Ser. Por causa do para-si é um Ser nidificado, no entanto busca preencher o nada do seu próprio Ser, estando em constante movimento à procura de existir. A consciência em todas as etapas é consciente do fazer humano.
(...) o homem, que de início nada é, irá definir-se pela sucessão de seus atos, pela série de opções que ele faz em face de cada situação concreta. Em nenhum momento da vida de um homem se pode afirmar que ele é isso ou aquilo, de uma vez para sempre. Como o homem inventa perpetuamente o seu Ser, sem possuir “caráter” congênito ou uma “essência” imutável, sua definição jamais se completa em vida, e se conserva sempre em aberto até a sua morte.  (Perdigão, 1995, p. 91)   
         Ainda assim, a consciência, ao dispor-se de si mesma como objeto, nidifica seu Ser. Dessa forma é feita, a consciência, em Sartre, é cheia de nada. É nesse sentido que Sartre irá definir a consciência humana como aquilo que é o que não é, e não é o que é, ou seja, a consciência humana é nada.
        Todavia para Sartre, a consciência não se define como uma plenitude fechada em si mesma, opaca e maciça. Pelo contrário, vem do princípio da fenomenologia husserliana de que a consciência se define como uma consciência posicional: "Com efeito, a consciência define-se pela intencionalidade. Pela intencionalidade, ela transcende-se a si mesma, ela unifica-se escapando-se”.” (O ser e o nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 47). Ora, dizer que a consciência é posicional significa que a consciência pega o objeto que está fora dela, no mundo, como objeto para a consciência. No mesmo sentido, a consciência é passagem para os objetos que estão largados no mundo, e que o mundo todo está, necessariamente, fora da consciência.
“Para Sartre é a estrutura original da consciência que, ao se fundar, por um lado, na plenitude das coisas (que não mudam) e, por outro, no vazio da consciência para que seja possível a experiência das coisas (a intencionalidade), faz com que possamos ser nossa própria invenção (mudamos).” (Carrasco, Alexandre de Oliveira Torres; A liberdade; São Paulo: WMF Martins Fontes, 2011. Pg.39.).
        No entanto a consciência está sempre situação, de toda maneira ela sempre tem por seu ser um objeto que não é ela mesma. Dito de outra forma, a consciência, ao visar os objetos que estão no mundo, deflagra a percepção de que "Em-si" ela nada pode encontrar, exatamente por estar todo o mundo fora dela. Assim, para Sartre, a intencionalidade da consciência traz em seu bojo o fato de o mundo estar fora da consciência, ou que a consciência é sempre falta: "Toda consciência é falta de... para...”, (O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 153). Ou de toda maneira, que na consciência não há conteúdo porque ela é caminho para o mundo em busca de sua essência: "O primeiro passo de uma filosofia deve ser, portanto, expulsar as coisas da consciência e restabelecer a verdadeira relação entre está e o mundo, a saber, a consciência como consciência posicional do mundo". (O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 22).
       O surgimento da consciência diante de si instaura a distância de si com relação a si mesma distância está definida como nada de ser, de acordo como afirma Sartre: "O Ser da consciência, enquanto consciência, consiste em existir à distância de si como presença a si, e essa distância nula que o ser traz em seu Ser é o Nada" (O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 127). Dessa forma, não há, na leitura ontológica da realidade humana, nenhum Ser que determine aquilo que a consciência é. Impossível definir seu Ser, posto que seu Ser é nada, a consciência se caracteriza tão somente como abertura para o mundo, uma abertura que é refratária de toda realidade que habita o mundo, conforme afirmar Sartre: "Nenhuma categoria pode ‘habitar’ a consciência e nela residir como coisa" ( O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 52).
        Assim sendo, a consciência somente pode aparecer no mundo através da nadificação de seu Ser como sendo a possibilidade própria do Ser da consciência: "O nada é a possibilidade própria do Ser e sua única possibilidade [...] A realidade humana é o ser, no seu Ser e por seu Ser, enquanto fundamento único do nada no coração do Ser" (O Ser e o Nada, Ensaio de ontologia fenomenológica, Sartre Jean-Paul; tradução do Paulo Perdigão. 21 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. Pg. 128).
        Sartre defende o conjunto da consciência, pois “toda consciência é consciência de alguma coisa” (Husserl). E sendo a intencionalidade característica definidora dela, pois a consciência está necessariamente voltada para um objeto, de maneira que quando ela sofre uma separação ou é concebida uma instância que se opõe a ela, no caso o inconsciente, a consciência é deformada do é, do mesmo jeito, o próprio homem, visto que ele é sempre consciência de si, ainda que a consciência possa ser negada.
        No mesmo sentido que consciência é livre, é movimento (é intencional, é criadora de sentido, é abertura em direção ao Ser, é desejo de Ser, é falta de plenitude). Sendo assim, o conhecimento, a linguagem, os símbolos, os signos, intrinsecamente ligados à vontade de construir um si (justamente pela falta de plenitude), caracterizam a relação da consciência com o mundo enquanto uma relação existencial: é o Para-si desejando a totalidade e o mundo. Ela é negação do que é para se apresentar no mundo como autêntica em sua realidade situada.
       No processo de Liberdade, o Ser humano necessitará Ser consciente para escolher, e será preciso escolher para se consciente. Escolha e consciência é uma só coisa. Mas, conforme explanado a consciência é nadificação, compreendemos que ter consciência de nós mesmo e escolher-nos são a mesma coisa. A liberdade do Para-si aparece como sendo o seu ser. Mas como esta liberdade não é uma dativa, nem uma propriedade, ela só pode ser escolhendo-se. Mas ainda assim, temos plenamente consciência da escolha que somos. Angustia, desamparo, responsabilidade, constituem a qualidade de nossa consciência na medida em que esta é pura e simples liberdade.
    "Partindo da análise dos fenômenos. Sartre conclui, ... que o Ser comporta duas regiões ontológicas distintas; de um lado, o Ser-em-si... dos fenômenos; de outro, o Ser-para-si da consciência... dos fenômenos; de outra, o Ser-para-si da consciência...
   O primeiro é implicado pelo segundo, pois que, de acordo com o princípio da intencionalidade, reformulado por Brentano, e que serviu de base à filosofia fenomenológica de Husserl, a consciência é sempre consciência de algo. A consciência, portanto, revela um outro ser para o qual está permanente voltada e na direção do qual se transcende. “É o ser desta mesa, deste maço de cigarros, da lâmpada e, de um modo geral, o ser do mundo que é implicado pela consciência.” (Sartre, L'Etre et le Néant.14º ed. Paris: Gallimard, p.29.)". " (Ensaios Filosóficos, Nunes Benedito; organização e apresentação Vitor Sales Pinheiros. São Paulo: editora WMF Martins Fontes, 2010. Pg. 204).
       Sartre, ao estudar o sujeito, ou seja, o “Para-si”, o faz de maneira extraordinária. A existência do Para-si, com efeito, condiciona sua essência. Mas é necessário consultar a história de cada um par se ter um singular acerca de cada Para-si singular. Sendo o homem o Ser de liberdade o grande tema de suas obras.



[1] O termo “Para-si” é um dos termos que Sartre utiliza para expressar o Ser da consciência no mundo.

[2] O termo “Em-si-Para-si” é uma compressão que Sartre dá em relação ao Ser Livre.
[3] O termo “Em-si” é uma interpretação que Sartre faz do Ser da Consciência interiorizado em si mesmo que não se manifesta no mundo.

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